quarta-feira, 14 de novembro de 2012

green washing a Green School


Começamos pela própria construção, praticamente toda feita de bambu, material abundante e renovável nesta região do planeta. Para os que lêem este post e não vêem as imagens, vem logo a mente uma imagem tosca de construções adaptadas de bambu. Bem, nada disso, a escola respira design e é absolutamente linda. Durante estes dias foi comum ver turistas que chegavam e olhavam dentro do “Coração da Escola” e ficavam absolutamente boquiabertos.
Green School - uma escola construida praticamente toda de bambu
Green School – uma escola construida praticamente toda de bambu


Além da construção, hoje, a escola já é capaz de sustentar 80% da energia que consome através da captação de energia solar. O único prédio que tem ar condicionado (embora o calor quase constante que flutua em torno dos 30 graus Celsius e 70% de umidade) é o pequeno quiosque do caixa eletrônico. Toda a energia que alimenta o caixa e seu sistema de refrigeração tem origem na luz do sol.
As maravilhosas salas de aula tem brisa e luz natural, sem falar no som das cigarras, pássaros, sapos e todos os habitantes da floresta do seu entorno.
Mas a ousadia não para por aí. Um vórtex que desvia uma pequena parte do rio (nada de diques,barragens ou algo assim) equipado com uma turbina horizontal está em fase de desenvolvimento para que mais energia renovável seja gerada.
O vortex que desvia uma pequena parte da água do rio Ayung para gerar energia por uma turbina horizontal
O vortex que desvia uma pequena parte da água do rio Ayung para gerar energia por uma turbina horizontal
Vale dizer também que no grupo de implantação desta tecnologia, vários pais de alunos estão presentes. Envolver a família em atividades na escola é algo absolutamente natural e necessário para se construir uma comunidade sinérgica de aprendizado.
Saindo um pouco da questão energética e indo para a alimentação, quase toda a fantástica comida (feita com muito carinho por uma cozinheira local) é plantada localmente dentro do campus da escola, além disso, seguindo a tradição, a comida é servida sobre folhas de bananeira, levando a zero o impacto gerado com lixo não biodegradável. Fast-food, nem pensar. O buffet tem todos os dias versões ocidentais e locais, mas nada de enlatados, congelados e importados. A comida, é local.
A criação de animais e o cultivo de vegetais é também parte da sala de aula. É bastante comum ver crianças perambulando pelo galinheiro,colhendo frutas ou vegetais e correndo pela floresta. Mesmo as aulas de matemática, drama, artes, tem sempre ação e inspiração no meio ambiente do campus.
Na Green School, o campus é comestível !
Na Green School, o campus é comestível !
A equipe de funcionários da escola e composta de mais de 130 pessoas entre eles professores, jardineiros, cozinheiros, equipe de manutenção.
Uma grande parte desta equipe é contratada localmente. Nas salas de aula, professores indonésios e também de várias partes do mundo se revezam ou até mesmo se complementam dentro de uma mesma classe (que conta com mais de um professor simultaneamente).
As aulas são em inglês, para atender a comunidade internacional que frequenta a escola, mas o bahasa, idioma local também faz parte do aprendizado.
Os banheiros que às vezes assustam os visitantes, tem dois vasos sanitários, um para líquidos e outro para sólidos. Neste segundo caso, nada de água, folhas secas dão conta do recado e preparam o início do processo de compostagem.
Sempre que se pensa em “sustentabilidade” ou “desenvolvimento sustentável” não há como escapar de uma análise da cadeia de valor (de onde vem, para onde vai, quem são os envolvidos), além de tentar pensar em três dimensões como colocaJohn Elkington : social, ambiental e econômico.
A escola que sobrevive totalmente das mensalidades e doações que recebe, tem por objetivo ter 20% dos alunos locais com subsídio de até 100%. Hoje, tem menos de 10% e se esforça para fechar a conta. Mensalidades por aqui custam em torno de US$ 1.000,00 por mês.
O currículo da escola também é um exemplo de visão sistêmica. Aulas temáticas, currículo flexível que muda a cada 5 semanas, aprendizado focado sempre nas dimensões sociais/emocionais, sinestésicas, intelectuais e espirituais simultaneamente dão o tom. As “caixinhas” por aqui, se é que existem, pelo menos se conectam e se comunicam de forma bastante harmoniosa e complementar.
Nas entrevistas que Carla Mayumi conduziu com alunos e alunas de várias séries diferentes, parece que de fato a escola entrega aquilo a que se propõe. Todos adoram as aulas e manifestam claramente a sensação de aprendizado e troca. “Depois que vim pra cá me tornei mais inteligente” diz o garoto filho de mãe sul-coreana e pai canadense.
Ouvimos uma outra aluna asiática que disse claramente em sua entrevista que o maior aprendizado que teve foi perceber que “todos são iguais, não há distinção de classe, cor ou religião”.
Obviamente a Green School nao é perfeita. Teve altos e baixos durante sua existência.
Mas é preciso pensar que a escola tem 5 anos de vida e está aprendendo a caminhar, mas para nós que visitamos e vivemos a experiência por esta semana, acredito que o maior elogio a ser feito é dizer que certamente matricularíamos nossos filhos e filhas por aqui.
Aliás são muito comuns as histórias de pais que deixaram tudo para trás somente pela chance de ter seus filhos fazendo parte desta comunidade.
Posso dizer que a Green School é uma das raríssimas escolas que conheço onde o“educar na sustentabilidade” parece de fato acontecer.

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